terça-feira, 18 de março de 2025

NOTAS SOBRE IMPERIALISMO * Roberto Bergoci/SP

NOTAS SOBRE IMPERIALISMO
Roberto Bergoci.SP

Olha, camarada, o bloco imperialista parece relativamente cindido. Veja a postura crítica, até desafiante do imperialismo europeu em relação a Trump, na questão da Ucrânia. Veja também, o avanço das contradições e do belicismo no mundo capitalista, no contexto das taxações de Trump. O desenrolar da crise capitalista mundial, as tentativas de reestruturação do imperialismo ianque, etc., podem estar abrindo certas fendas entre nossos inimigos, do qual os trabalhadores do mundo e os povos oprimidos podem e devem tirar proveito.

Não temos uma situação revolucionária ainda no mundo. Pelo contrário, permanecemos dentro de um período contra-revolucionário aberto com o fim da União Soviética. No entanto, o bloco imperialista formado desde então para re-dividir o mundo, parece estar se fissurando. Devemos tirar proveito disso. A vitória russa na guerra da Ucrânia representou duríssimo golpe no imperialismo mundial; assim como a resistência palestina armada. É hora de se reestruturar as forças do trabalho internacionalmente. É preciso reconstruir o movimento comunista internacional e estreitar também em nível mundial, as lutas antiimperialistas em andamento.

A crise do sistema de dominação imperialista é aberta e clara. O avançar da luta antiimperialista no mundo hoje, colocaria a burguesia de todos os países numa situação de muitas dificuldades, sobretudo porque o capitalismo atual possui pouquíssimas e limitadas margens para manobrar.

A tarefa mais importante de nossa época é fortalecer partidos e organizações comunistas revolucionárias nos países. Essa é uma condição de primeira importância.

Também, é necessário trabalharmos para organizar fóruns internacionais dos trabalhadores e dos povos oprimidos, que possibilitem internacionalizar as lutas sociais e antiimperialista.

No Brasil precisamos fortalecer uma frente da esquerda revolucionária, que pode começar pequena e débil, porém pode crescer e fortalecer-se através de um programa sério e consciente, de uma bússola para atuar e sobretudo, se romper com o sectarismo infantil.

UM PARÊNTESE

Uma experiência pessoal recente, sobre essa questão:
Na última sexta feira 14 de março, minha sogra faleceu por complicações relacionadas a um AVC e uma parada cardíaca em um hospital municipal em Guarulhos, grande São Paulo. Ela havia dado entrada no mesmo hospital no dia anterior pela manhã, com dores abdominais.

Após passar por procedimento médico e exames sanguíneos e raio-x, foi constatado um problema relacionado aos rins. A médica que a atendeu, por precaução, decidiu pela internação e medicação. No entanto, no hospital (principal hospital público de Guarulhos) não havia leito disponível e a idosa de 70 anos teve de aguardar pela madrugada de quinta feira adentro, o aparecimento de um leito para seus cuidados.

De nada adiantou as cobranças duras que fizemos, pois o problema é estrutural: o sistema está sub financiado; as instalações e mesmo a estrutura hospitalar como um todo, conforme podemos ver de perto, completamente sucateadas, faltando inclusive insumos básicos para atendimento, como aventais, etc., para os pacientes.

O hospital se encontrava lotado, a demanda por atendimento estava crescendo, enquanto o número de funcionários era muito reduzido no local. Uma situação absolutamente caótica e traumática mesmo.

Após conseguir um leito precário já pela manhã da sexta feira dia 14, minha sogra teve complicações, que acredito serem devido ao problema renal e teve dificuldades em urinar. Neste instante, a médica que a atendia prescreveu o uso de uma sonda, para fazer uma drenagem no local. Neste momento, podemos ver o despreparo assustador de parte dos trabalhadores da enfermagem, que não conseguiam realizar o procedimento.

 Talvez seja despreparo, porém o mais certo seria caracterizar a condição, como sobrecarregados devido à dialética macabra entre quadro reduzidíssimo de funcionários e uma demanda assustadora de doentes buscando uma salvação.

O resultado foi que neste quadro precário de atendimento, entre idas e vindas e sem uma atenção necessária, minha sogra sofreu um AVC, seguido por uma parada cardíaca, vindo a óbito em seguida, no mesmo dia 14 de março último; um dia após ter dado entrada no hospital de urgência lúcida e com dor abdominal que já estava sob controle.

No entanto, fato marcante, foram as inúmeras cenas de barbárie e de desumanidade assustadoras da qual presenciei pessoalmente dentro de um hospital municipal tradicional em Guarulhos, terceiro município mais rico do estado de São Paulo e com um PIB considerável, entre os maiores das cidades latinoamericanas. Se isso acontece num município de grande porte industrial e rico, como Guarulhos, imaginem a situação nas pequenas regiões afastadas dos grandes centros, neste país.

A nova fase do capitalismo em decomposição, é pôr em prática de forma selvagem o malthusianismo e darwinismo social sem piedade. É deixar morrer à míngua as parcelas mais empobrecidas das classes trabalhadoras que não podem ser nem mais exploradas pelo capital, pois pela ótica deste regime social criminoso, tornaram-se seres supérfluos dentro deste moinho de gastar gente, como diria o grande mestre Darcy Ribeiro.

Acima, relacionado a esta matéria, relato pessoal, sobre o falecimento de minha sogra num hospital municipal de Guarulhos. Penso ser também a experiência de milhões de brasileiros da classe operária neste país.

segunda-feira, 3 de março de 2025

PROGRESSISMO ATÉ QUANDO * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

PROGRESSISMO ATÉ QUANDO
Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros
PCTB

Muito se tem falado e não poucos camaradas e militantes honestos, acalentam sérias ilusões nos governos pequenos burgueses de esquerda, supostamente "reformistas", caracterizados por sociólogos e setores de imprensa como "progressistas". 

Desde fins dos anos 1990 e inícios dos 2000, a América Latina passava por profunda crise econômica e política que expressava o total esgotamento das política neoliberais que vinham desmontando os Estados nacionais, fazendo explodir desemprego , a miséria e desagregação do tecido social de diversos países do continente.

Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, entre outros, viviam processos de auge das lutas populares e que amedrontavam suas burguesias. No entanto, por carência de direções revolucionárias sólidas (com exceção da Venezuela) que possuissem influência de massas, e manejassem um programa sério de transformação revolucionária profunda nestes países, levou os partidos ou movimentos radicais pequenos burgueses ou reformistas, a direção e culminância desses processos.

Na Venezuela e Bolívia o teatro de luta foram mais avançados, inclusive o primeiro vivia uma situação revolucionária. Estes dois países conseguiram como resultado das lutas de seus povos, avançarem muito numa agenda de desenvolvimento político e social, com um claro caráter popular e democrático.

As lições do que ocorreram e ocorrem na Venezuela sobretudo, o aprendizado desse processo riquíssimo de luta popular e antiimperialista, é de grande valia para os trabalhadores e povos oprimidos do mundo inteiro. Portanto, claramente a Venezuela em particular, está distante, quanto às características de seu processo político e social sui generis, do conjunto da maior parte dos outros embates, que foram encabeçados pelos chamados "progressistas". 

O "progressismo" na América latina, tem sido uma espécie de tentativa de viabilizar uma saída de tipo "social democrata" para a crise profunda e, mesmo, esgotamento do capitalismo dependente. A reversão econômica primária exportadora que a divisão mundial do trabalho imperialista, legou a nossa região desde os anos 1980/90, no contexto da crise da dívida, Consenso de Washington e avanço do regime neoliberal de reprodução do capital no continente, agravou ainda mais nossa situação de dependência e o subdesenvolvimento de nossos países.

As crônicas transferências de valor e de riquezas de nossas pátrias às metrópoles imperialistas, com a consequente descapitalização de nossas economias, impediram e impedem as condições de desenvolvermos nossas forças produtivas próprias, dentro de um projeto regional de desenvolvimento. Isso agrava a vulnerabilidade das economias dependentes latinoamericanas, que, cada vez mais, necessitando de divisas para garantir as transferências de valor para os centros imperiais, necessitam recorrer e afirmar a cada passo, sua estrutura de economia exportadora, voltada para fora, hostil a sua própria gente.

E quanto mais as economias dependentes caem nessa arapuca, mais primarizam suas estruturas econômicas, aprofundando sua dependência diante do capital imperialista que encontra a sua frente, economias sem a menor possibilidade de lhe impor resistência e assim, o resultado é que a cada passo dessas economias fragilizadas, ativam os mecanismos de recrudescimento de sua própria sangria, da dependência e subdesenvolvimento acirrados.

Nesse processo histórico dialético, a experiência tem mostrado que enquanto persistir o modo de produção capitalista, não existe possibilidade de ruptura com essa teia, que tem aprisionado nossas economias.

A América Latina classista (nos referimos a América pós colombiana) surge no contexto de avanço do capitalismo mercantilista europeu e, desde então, passando pelo seu período colonial, independentista, até nossos dias, sempre foi condicionada pelas forças alienígenas em colaboração de suas oligarquias crioulas.

Desde o período após as guerras de intendência, nossos países fragmentados e balcanizados, passaram a estar submetidos às subsequentes divisões do trabalho no capitalismo mundial, que nos inseriu desde ai subalternamente, como economias dependentes, complementares dos interesses do grande capital e dos países imperialistas. Os períodos de desenvolvimento pelo qual passamos no contexto das políticas de substituição de importação em meados do século passado, na crise do entre guerras, que logo foram esterilizados pelo imperialismo e seus sócios menores das oligarquias indígenas, nos levaram àquilo que André Gunder Frank conceitualizou com muita precisão como "desenvolvimento do subdesenvolvimento".

Nos tornamos hoje economias primarizadas e rentistas, voltadas para exportação agromineral, energética e extrativista; somada a uma plataformalização da valorização parasitária do capital rentístico internacional.

As crônicas transferências de valor e de riquezas de nossas região, em direção aos grandes centros metropolitanos do capitalismo mundial permanecem como realidade em nossas pátrias. A superexploração do trabalho, o desemprego e subemprego crônicos, a pobreza, miséria e marginalidade assustadoras de nossa gente, fenômenos típicos do subdesenvolvimento, insistem em persistir e mesmo se agigantam em nossa época na América latina. A bomba de sucção implantada em nossos países pelas forças imperialistas em colaboração das burguesias crioulas, jamais foram desmontadas pelos chamados governos "progressistas".

E a própria estrutura do capitalismo dependente, não foram enfrentadas por estes governos, permanecendo nossos países presos aos grilhões da dominação imperialista em conluio com seus sócios internos, cúmplices na pilhagem da região e na exploração e opressão selvagem de nossos povos.

Não há possibilidades de significativos avanços sociais em nossos países, sem enfrentar as estruturas nocivas da dependência e do subdesenvolvimento. E mais: não existe possibilidade de enfrentar essas estruturas que amarram nossos países e nossos povos, sem enfrentar as oligarquias burguesas indígenas e o próprio sistema de dominação imperialista.

Portanto , para isso, é preciso um programa socialista e nacionalista/antiimperialista de transformações qualitativas e revolucionária de nossas sociedades, que mobilizem sob essa perspectiva, os povos trabalhadores de nossa América, coisa que jamais foi encarada e muito menos esboçada pelos governos "progressistas" de conciliação de classes, que não conseguiram nem mesmo garantir para as massas, a institucionalização de verdadeiras reformas de base.

Na verdade, ao não propor a mobilização popular no sentido de caminhar para uma política de enfrentamento revolucionário contra as burguesias titeres e o Imperialismo, esses governos frágeis na verdade retrocederam politicamente e embotaram o nível de consciência política de parte considerável dos trabalhadores. Assim, o que fizeram foi pavimentar o caminho para o crescimento em toda a região, de uma extrema direita com claros contornos neo fascistas.

Dessa forma, a realidade histórica nos admoesta que, para avançar diante do inimigo de classe, precisamos de uma política correta, de um programa que nos norteie, da clareza política, da consciência das massas e uma direção segura, que tenha um rumo certo.

As estruturas sociais monstruosas e nocivas que dominam nossos países, características do capitalismo dependente que nos domina a séculos, somente podem ser rompidas por um processo revolucionário, como tão bem nos ensina a revolução cubana e a experiência bolivariana iniciada pelo comandante Hugo Chávez em Venezuela, muito distante das limitações do chamado "progressismo".

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A ATUALIDADE INSUPERÁVEL DE LÊNIN * Roberto Bergoci/SP

A ATUALIDADE INSUPERÁVEL DE LÊNIN
EM DEFESA DO LEGADO REVOLUCIONÁRIO DE NOSSO MESTRE BOLCHEVIQUE

-Nossa comemoração a mais este aniversário do Camarada que dedicou sua vida à libertação dos oprimidos, quando completa 155 anos do seu nascimento-
“Caminhamos num pequeno grupo unido por uma estrada escarpa e difícil, segurando-nos fortemente pela mão. Estamos cercados de inimigos por todos os lados, e, quase sempre, é preciso caminhar sob fogo cruzado. Estamos unidos por uma decisão tomada livremente, justamente para lutar contra o inimigo e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes nos acusam, desde o início, de termos formado um grupo à parte, preferido o caminho da luta ao da conciliação.” (Lenin).

No dia 22 de abril, comemoramos o aniversário de nascimento de Lênin, e neste 2020 se completará os 150 anos de nascimento do grande dirigente revolucionário e chefe do proletariado mundial, Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido pelo pseudônimo Lenin. Lenin foi o principal dirigente da Revolução Russa de 1917 ao lado de Leon Trotsky, e maior líder político desde o século passado. Seu legado, método e obra revolucionária, sobretudo o bolchevismo, não só permanecem atualíssimos, mas é mesmo imprescindível como arma política dos trabalhadores de todo o mundo em sua luta contra a burguesia e pelo socialismo. Exatamente por tal legado de luta contra o capital, nenhum outro líder político foi tão odiado e caluniado em toda a história como o foi e é Vladimir Lenin, expressão do profundo ódio de classe que todos os exploradores e opressores do mundo, bem como seus serviçais e lacaios, nutrem (mas também temem) pelo grande revolucionário.

Lenin foi sem sombra de dúvidas, a personificação da fusão entre teoria e prática. Na atual etapa de decadência burguesa e decomposição do capitalismo senil, caracterizado pelo auge da barbárie social, econômica, etc., só mesmo o partido revolucionário e a organização internacional dos trabalhadores como teorizado e posto em prática por Lenin podem dirigir às massas em direção a derrubada mundial da sociedade burguesa tardia.

Além de lançar as bases do partido revolucionário do proletariado como sua principal arma contra a burguesia, as contribuições de Lenin acerca do imperialismo, do combate ao oportunismo e da elevação da filosofia marxista revolucionária, são verdadeiros arsenais da política proletária e devem ser conhecidos das novas gerações de trabalhadores conscientes, que tem a missão histórica de levantar bem alto a bandeira do autentico marxismo-leninismo, em direção a destruição do modo de produção capitalista e eliminar a exploração do homem pelo homem, somente possível pela sociedade socialista.

Lenin e sua juventude

Nascido no dia 22 de abril de 1870 em Simbirsk, nas margens do rio Volga na Rússia Czarista, Vladimir Ilich Ulianov teve origem familiar na pequena burguesia russa, seu pai, Ilya Nicolayevich Ulianov, foi funcionário no setor educacional Czarista e sua mãe, Maria Alexandrovna Blank, era filha de um médico na província de Kazan. Lenin viveu em sua infância e adolescência tempos de grande agitação política, neste período a Rússia era uma sociedade semifeudal e dirigida politicamente de forma despótica pela aristocracia Czarista e por uma classe dirigente arcaica, incapaz de levar adiante uma profunda transformação nas relações econômicas e sociais no país, seguindo os passos da grande burguesia europeia ocidental, herdeiras direta da grande revolução francesa de 1789. Durante a juventude de Lenin, praticamente toda a intelligentsia progressista da Rússia e os revolucionários, eram atraídos para a luta política pelo grupo “Vontade Popular”, que tinham como método de ação os atentados espetaculares, que segundo seus militantes, eram o único meio que poderia abalar o poder do Czar e construir uma outra sociedade. O irmão mais velho de Lenin, Alexandre Ulianov, integrante do “Vontade Popular”, foi enforcado em 1886 após tentativa de assassinar o Czar Alexander III.

Por este período Lenin frequentava a faculdade de direito em Kazan, quando um ano após o assassinato de Alexandre é preso e expulso da universidade por suas atividades. Nessa época, mesmo reconhecendo o valor e a coragem dos revolucionários que davam a vida enfrentando a exploração e opressão Czarista e da burguesia atrasada russa, Lenin já percebia a ineficácia das ações voluntaristas de “Vontade Popular” e do espontaneísmo em voga. Com grande perspicácia e vontade política, Lenin já desenvolvia a preocupação em unificar todos os grupos clandestinos de tendência marxista, que atuavam sobretudo em São Petersburgo, cidade em que ele desembarcara mudando-se de Samara, e que segundo Trotsky: “Foi portanto, entre a execução de seu irmão e sua mudança para São Petersburgo, nesse período de seis anos de trabalho árduo, que o Lenin futuro foi formado”.

Lenin estabelece contatos com grupos marxistas ilegais e estuda “O Capital” de Marx, seguido pelo “Anti-Duhring” de Engels, marcando em definitivo sua personalidade política revolucionária e seu avanço como teórico marxista. Logo se aproxima do grupo “Emancipação do Trabalho”, dirigido por George Plekhanov, o grande fundador do marxismo na Rússia, fatores decisivos na vida de Lenin, que em breve tempo caminharia na direção da fundação do partido revolucionário do proletariado. Através dos investimentos do capital estrangeiro, formou-se na Rússia uma pequena, mas poderosa classe trabalhadora, que deu origem aos círculos operários dos quais Lenin se aproximara. Sua aproximação dos operários foi decisiva para que ele compreendesse o papel fundamental que o proletariado poderia desempenhar no cenário político do país. Lenin nessa época percebe que, o desenvolvimento do capitalismo na Rússia arcaica, produzindo a instalação de grandes empresas e gerando um proletariado moderno, concentrado e disciplinado, estabelecia as bases materiais e condições objetivas para que a classe tivesse seus interesses próprios e independência política diante da burguesia e contra o Czar.

Em sua obra de 1894, “Quem são os amigos do povo e como lutam contra os socialdemocratas”, polemizando com os “populistas”, que não compreendiam as peculiaridades pelas quais se desenvolviam as lutas de classes e o caráter da revolução no país, Lenin já destacava o papel dirigente do proletariado russo e sua independência de classe, nas lutas democráticas que se recrudesciam. Neste importante texto, expõe os fundamentos do socialismo cientifico de Marx e Engels, como a principal ferramenta de luta dos trabalhadores em sua empreitada revolucionária histórica contra o capital.
No ano de 1895, pertencendo ao grupo “União e Luta pela Emancipação da Classe Operária”, Lenin se encontra com Plekhanov na Suíça e conversa com Paul Lafargue, importante revolucionário comunista e genro de Karl Marx, em Paris, sobretudo para aprofundar seus estudos da Comuna de Paris. Poucos dias após seu retorno foi preso e em seguida exilado com outros camaradas. Em 1898 ocorre o primeiro Congresso do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), do qual surgiu o partido Bolchevique, atacado pelas forças da repressão e seus participantes presos. Neste período em seu exílio na Sibéria, escreve um clássico da economia marxista, seu lendário livro “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, na qual analisa os efeitos da penetração do capitalismo na agricultura, as diversas etapas da evolução do modo de produção burguês na indústria, o crescimento da proletarização maciça e a formação da classe trabalhadora.

Lenin foi sem dúvida a principal figura do século XX, sua personalidade e seu protagonismo como dirigente revolucionário do proletariado mundial foram incomparavelmente decisivos para a luta da classe trabalhadora em todo o globo.

Bolchevismo: o partido de novo tipo

No começo dos anos 1900, já no fim de seu exílio, Lenin passa a dedicar grande esforço para a construção de um jornal que abarcasse toda a Rússia. O primeiro Congresso do POSDR já havia decidido publicar, por influência de Lenin, um jornal clandestino. Neste período surge o jornal “Iskra” (“A Faísca”), contrabandeado clandestinamente para dentro da Rússia e que se fundamentava programaticamente no marxismo e o colocava como força ideológica revolucionária dominante, contra as correntes sectárias e/ou oportunistas dentro do movimento operário, obra que Lenin valorizou até o fim de sua vida.

O “Iskra” prepara o 2º Congresso do Partido, que ocorreu em 1903, este que foi o Congresso fundador. Lenin centrou forças e escreveu uma das principais obras do marxismo revolucionário que mantém até hoje impressionante atualidade em seu método: “Que Fazer?”. Nessa obra magistral, o grande revolucionário lança as bases teóricas da “organização como sujeito político”, de forma que nenhum outro o fez antes. É neste genial documento que Lenin defende a criação de um partido de revolucionários profissionais, organizado, centralizado e disciplinado, como um verdadeiro “Estado Maior” do proletariado revolucionário. Nas palavras de Marcel Liebman “a própria ideia de organização ocupa no leninismo um lugar essencial: organização do instrumento revolucionário, organização da própria revolução, organização da sociedade surgida com a revolução”. As preocupações centrais de Lenin que o levaram a escrever “Que Fazer?”, eram produtos da desorganização pequeno-burguesa reinante que imperava entre a vanguarda revolucionária na Rússia Czarista.

Uma das características dessa vanguarda era o culto prestado ao “espontaneismo das massas”, desprezando os efeitos que a divisão do trabalho burguês impõe sobre os trabalhadores escravizados pelo capital. Combatendo no melhor espírito do socialismo cientifico dos mestres Marx e Engels, Lenin ensina nesta gigante obra: “Dissemos anteriormente que, na época, os operários não podiam ter consciência socialdemocrata. Esta só poderia ser introduzida de fora. A história de todos os países demonstra que, contando apenas com as próprias forças, a classe operária só está em condições de atingir uma consciência trade-unionista, isto é, a convicção de que é preciso agrupar-se em sindicatos, lutar contra os patrões, reivindicar ao governo a promulgação desta ou daquela lei necessária aos operários etc. A doutrina socialista, ao contrário, nasceu das teorias filosóficas, históricas e econômicas elaboradas pelos representantes instruídos das classes proprietárias, pelos intelectuais. Por sua origem e posição social, também os fundadores do socialismo cientifico contemporâneo, Marx e Engels, pertenciam à intelectualidade burguesa.” (Lenin, “Que Fazer?”). Lenin discorre em outras importantes passagens do livro sobre a influência nociva que o espontaneismo traz ao movimento operário, dando-lhe um radical combate, mostrando aos trabalhadores conscientes e sua vanguarda a necessidade da organização, da centralização, disciplina e cuidado com a teoria, unindo-a à práxis revolucionária no combate de morte contra a sociedade burguesa.

-1917-

Em 1903 ocorre o 2º Congresso do Partido, no qual os camaradas do Iskra tornam-se maioria. Após intensa polêmica acerca de questões organizativas, acontece o histórico racha entre Lenin e Martov, este último editor do Iskra e importante dirigente socialdemocrata da época. As principais divergências entre ambos os dirigentes, se dá principalmente quanto às problemáticas que envolviam a disciplina militante e as condições para ser tornar membro do partido. Enquanto Martov mantinha posição liberal pequeno burguesa (que refletia sua condição de classe) contrária a um partido composto por quadros disciplinados organicamente, Lenin afirmava que o revolucionário membro da organização deveria ter envolvimento completo, militante e disciplinado, contribuindo com o seu todo integral ao partido. Surge assim os Bolcheviques (Maioria em russo) e Mencheviques (Minoria). Expressando seu conteúdo de classe pequeno burguês, os Mencheviques afirmavam ser a burguesia nacional russa um elemento histórico progressista, destinado a levar adiante o desenvolvimento do capitalismo e da democracia burguesa clássica no país, como assim o fez em outra época, a burguesia revolucionária da Europa ocidental. Lenin e os Bolcheviques (Trotsky posteriormente desenvolveria cientificamente essa questão com a “Teoria da Revolução Permanente”), por sua vez, viam no proletariado russo a única classe que, apoiada no campesinato, poderia dirigir a revolução no país e resolver as tarefas democráticas pendentes em direção ao socialismo.

Enquanto os Mencheviques representavam a ala pequeno-burguesa e reformista da esquerda russa, os Bolcheviques tornaram-se os dirigentes máximos do proletariado e das massas exploradas e oprimidas, encabeçando e dirigindo com contribuição decisiva de Lenin como líder inconteste, essas massas à tomada do poder contra a burguesia, estabelecendo a ditadura do proletariado (democracia dos explorados e oprimidos contra os exploradores) e criando as bases do primeiro Estado operário da história.

1905: A veracidade do bolchevismo

A Rússia foi abalada econômica e socialmente pela grande crise que a atingiu entre os anos de 1900 e 1903, jogando na rua da amargura e do desemprego, mais de duzentos mil trabalhadores. Os campos passavam também por imensa pobreza e a opressão no país chegavam a limites insuportáveis. Em 1904 explodem em diversas regiões grandes greves em cidades industriais. Na cidade de Baku, os bolcheviques dirigem importante greve que teve imenso destaque. O Czarismo, enquanto dispensava algumas migalhas e pequenas concessões aos liberais e reformistas, apertava o torniquete contra os bolcheviques perseguindo-os implacavelmente.

Em 1905, com o recrudescimento qualitativo das contradições imensas no país, explode a revolução. A insurreição dos marinheiros no famoso encouraçado Potenkin, e o surgimento dos Soviets, são as expressões do radicalismo das massas e da situação explosiva e revolucionária pelo qual passava o país, fruto da profunda crise que atingia o regime burguês de conjunto. Os Mencheviques continuavam mantendo suas ilusões num suposto caráter progressista da burguesia russa, que para eles desenvolveria o capitalismo nacional e a democracia, assim, caracterizava essa revolução como democrático burguesa, dirigida pelas classes exploradoras enquanto os trabalhadores deveriam fazer oposição no parlamento sem assustar a burguesia com o “fantasma” do socialismo.

Com a traição e repressão burguesa em 1905, as ilusões mencheviques se evaporam e fica evidente a veracidade do programa revolucionário bolchevique, que via no proletariado o sujeito histórico dirigente do processo, que deveria transformar dialeticamente a revolução democrática em socialista eliminando a sociedade de classes, programa atual até hoje nos países de capitalismo dependentes e semicoloniais. Trotsky neste período era o mais importante dirigente dos Soviets em todo o país e buscava a unidade entre as duas principais alas do movimento operário russo, enquanto mantinha independência das duas correntes. Isso fez com que durante este período, Lenin e Trotsky mantivessem ácidas polêmicas no interior do movimento revolucionário. No entanto, nos anos que se seguiram, Trotsky se tornou o principal discípulo e herdeiro político e teórico de Lenin, que em seus últimos escritos foi radicalmente contrário em utilizar suas antigas divergências contra Trotsky.

Após a derrota da revolução de 1905, um duro período de reação se abateu contra os trabalhadores russos e sua vanguarda, se expressando no abatimento, desmobilização e desorientação de parte das massas. Além disso, houve um grande assenso de todo tipo de falsificações e apostasias filosóficas e ideológicas. Neste contexto Lenin pública “Materialismo e Empiriocriticismo” (1909), um clássico da filosofia materialista, combatendo os filósofos burgueses Mach e Avenarius, o padre Berkeley, além de social democratas como Bogdanov, partidários de um idealismo subjetivo reacionário e do agnosticismo, que negavam, como faziam os idealistas, a própria matéria, abrindo concessões ao irracionalismo teológico, arma ideológica poderosa da burguesia em sua luta contra o proletariado; ou defendiam como os agnósticos epígonos medíocres de Kant, a impossibilidade de conhecer a realidade objetiva, que nada mais era, segundo Lenin, uma tentativa de ressurgimento das concepções ultra subjetivistas do padre Berkeley e Hume.

Lenin expõe celebremente a concepção materialista da psique e da consciência como produto superior da matéria, ou seja, como função do cérebro humano, destacando que são em essência, reflexo direto e indireto do mundo exterior. De acordo com Lenin, “A matéria é uma categoria filosófica para designar a realidade objetiva, que é dada ao homem nas suas sensações, que é copiada, fotografada, refletida pelas nossas sensações, existindo independente delas” (1909). Embora contendo certas limitações, que Lenin corrige em seus cadernos sobre Hegel, a teoria do reflexo de Lenin exposta resumidamente em sua citação acima, expressa uma defesa sem par da concepção materialista do homem, do desenvolvimento histórico dos seus sentidos e do seu próprio ser social. Em seu outro monumental texto filosófico, “Cadernos sobre a Dialética de Hegel”, escrito no contexto da Primeira Guerra, Lenin deixa patente seu legado de grande filósofo do marxismo, contribuindo grandemente, assim como Marx e Engels, para solidificar a base materialista da dialética tomada de Hegel, outro gigante do pensamento humano: “Geralmente, procuro ler Hegel de modo materialista: Hegel é o materialismo de cabeça para baixo [segundo Engels],ou seja, eu elimino em grande parte o bom deus, o absoluto, a Ideia pura, etc.”(“Cadernos sobre a Dialética de Hegel”).

Lenin demonstra de forma certeira que filosofia e política andam juntas. Que não pode haver política correta sem estar iluminada por uma filosofia e teoria que correspondam às necessidades das condições objetivas e subjetivas, ou seja, revolucionárias e transformadoras da realidade social, bem distante do pedantismo e irracionalismo característico dos amorfos ambientes acadêmicos burgueses. Dessa forma, Lenin desbarata por completo a filosofia idealista burguesa contemplativa e seu conteúdo reacionário. Para Lenin a filosofia se insere entre outras coisas (longe do simplismo) como “luta de classes na teoria” e arma teórica, espiritual do proletariado.

Em 1912 surge um novo despertar dos trabalhadores, período que vai até 1914 com a explosão da Primeira Guerra Mundial, acontecimento que marcou a carnificina e barbárie que a burguesia recorre, sempre que necessitar e quando os imperativos econômicos alienantes de acumulação, corrida pelo lucro e saque em grande escala exigirem. A Primeira Grande Guerra, seus reflexos na luta de classes, particularmente no seio do movimento comunista e socialista, sepulta também toda a antiga direção reformista da II Internacional e da social democracia alemã, apoiadores da matança burguesa, duramente combatidos pelos bolcheviques e Lenin em especial, por Trotsky e Rosa Luxemburgo, que defendiam até as últimas consequências o internacionalismo proletário, a guerra revolucionária contra a burguesia em todos os países e mesmo a necessidade de uma nova Internacional diante de uma época sombria para o movimento comunista em todo o mundo.

“O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”: o avanço da economia política do marxismo

Em 1916 Lenin publica uma de suas principais contribuições ao movimento dos trabalhadores de todos os países. “O Imperialismo Fase Superior do Capitalismo” de Lenin significou de fato um avanço da economia política marxista, pois trata da nova fase pelo qual adentrava o capitalismo mundial em fins do século XIX, do qual Marx não poderia ter visto, embora tenha percebido e apontado em seu livro terceiro de “O Capital” as tendências dialéticas da sociedade burguesa marcada pela ascensão dos monopólios e da fusão do capital bancário hiperconcentrado com o capital industrial. Segundo Lenin, a “Concentração da produção; monopólios que resultam da mesma; fusão ou junção dos bancos com a indústria: tal é a história do aparecimento do capital financeiro e daquilo que este conceito encerra[...]O Monopólio, uma vez que foi constituído e controla milhões e milhões, penetra de maneira absolutamente inevitável em todos os aspectos da vida social, independentemente do regime político e de qualquer outra particularidade.” (“O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”). Olhando esses escritos, parece mesmo terem sido elaborados ontem, pois é em grande medida exatamente o que tem ocorrido com a economia capitalista contemporânea.

Embora John Hobson (um liberal burguês, que não podia sacar de sua análise conclusões revolucionárias como Lenin o fez), Hilferding, Bukárin e mesmo Rosa Luxemburgo tenha precedido “O Imperialismo” de Lenin, o mestre bolchevique mantém sua originalidade impar e uma finalidade política e revolucionária precisa, característica de todas as suas obras. Se o imperialismo, como diz Lenin, se manifestava “em todos os aspectos da vida social”, inclusive pela guerra, “A isto deve-se acrescentar que, não só nos países recentemente descobertos mas também nos velhos, o imperialismo conduz às anexações, à intensificação da opressão nacional, e, por conseguinte, intensifica também a resistência”. Lenin combate acidamente o oportunismo e a conciliação de classes, levado adiante pelos chefes degenerados da II Internacional, sobretudo Kautsky.

Segundo Lenin, “A particularidade fundamental do capitalismo moderno [imperialismo] consiste na dominação exercida pelas associações monopolistas dos grandes patrões. Estes monopólios adquire a máxima solidez quando reúnem nas suas mãos todas as fontes de matérias-primas, e já vimos com que ardor as associações internacionais de capitalistas se esforçam por retirar do adversário toda a possibilidade de concorrência, por adquirir, por exemplo, as terras que contém minério de ferro, o jazigos de petróleo, etc. A posse de colônias é a única coisa que garante de maneira completa o êxito do monopólio contra todas as contingências da luta com o adversário, mesmo quando este procura defender-se mediante uma lei que implante o monopólio do Estado. Quanto mais desenvolvido está o capitalismo, quanto mais sensível se torna a insuficiência de matérias primas, quanto mais dura é a concorrência e procura de fontes de matérias primas em todo o mundo, tanto mais encarniçada é a luta pela aquisição de colônias.[...]A época do capitalismo contemporâneo mostra-nos que se estão estabelecendo determinadas relações entre os grupos capitalistas com base na partilha econômica do mundo, e que, ao mesmo tempo, em ligação com isto, se estão estabelecendo entre os grupos políticos, entre os Estados, determinadas relações com base na partilha territorial do mundo, na luta pelas colônias, na luta pelo território econômico.”(idem). O método de Lenin, sua capacidade de manejar as armas da dialética são impressionantes, está descrito acima absolutamente tudo o que vemos acontecer em nosso período histórico, marcado pela agressividade dos grupos imperialistas atuais, sobretudo seu chefe, o imperialismo ianque e sua política neocolonizadora atual contra os povos; um simples olhar sobre o que ocorre com a Líbia, Síria e Venezuela são exemplares da veracidade e atualidade dessa imprescindível obra.

Mas, se o imperialismo “[...]é a época do capital financeiro e dos monopólios, que trazem consigo, em toda parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade.”, também podemos “qualificá-lo de capitalismo de transição ou, mais propriamente, de capitalismo agonizante.” (idem). Assim, sendo a época imperialista de “guerras e revoluções” segundo Lenin, tal período histórico da sociedade burguesa nada mais faz do que criar as bases materiais para as relações de produção socialista e a emancipação humana com o fim da sociedade de classes, só possível pela ação revolucionária e consciente das massas dirigidas pelo proletariado e seu partido comunista, que acaudilhe atrás de si, todos os setores explorados e oprimidos pela sociedade do capital.

“O Estado e a Revolução”: a doutrina marxista do Estado e de seu desaparecimento histórico

Em 1917, pouco antes da insurreição proletária de outubro Lenin escreve “O Estado e a Revolução”, obra imprescindível a todos os trabalhadores conscientes e suas organizações, pois sistematiza e faz avançar a teoria marxista do Estado e seu caráter de classe, como nenhum outro antes. Também nesta obra, escrita no contexto de guerra e revolução, Lenin combate sem tréguas o oportunismo, chauvinismo e as posições renegadas dos chefes da II Internacional, em primeiro lugar Kautsky. Partindo dos escritos de Engels em “A Origem da Família”, Lenin demonstra como o Estado é uma força que brota da sociedade, mas que, no entanto, se situa acima dela, com os destacamentos de homens armados e as instituições que garantem a dominação de classe dos exploradores. Neste sentido, Lenin afirma que: “Como o Estado nasceu da necessidade de refrear os antagonismos de classes, no próprio conflito dessas classes, resulta, em princípio, que o Estado é sempre o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante que, também graças a ele, se toma a classe politicamente dominante e adquire, assim, novos meios de oprimir e explorar a classe dominada. Não só o Estado antigo e o Estado feudal eram órgãos de exploração dos escravos e dos servos, como também o Estado representativo moderno é um instrumento de exploração do trabalho assalariado pelo capital” (“O Estado e a Revolução”).

“O Estado e a Revolução” significa de fato um verdadeiro manifesto contra o oportunismo e ilusões eleitoreiras, pois fica patente que “fora o poder tudo é ilusão”; ou seja, os trabalhadores devem não se apossar para reformar, mas “destruir a máquina estatal burguesa” e substituí-la pela ditadura do proletariado em armas contra a burguesia, como única forma de quebrar sua base material e econômica de dominação através da eliminação da propriedade privada dos meios de produção, e da condução da sociedade pelos trabalhadores conscientes e desalienados, senhores do seu destino como portadores históricos e agentes materiais destinados a pôr um fim na sociedade dividida em classes sociais antagônicas.

Na perspectiva leninista:“O proletariado se apodera da força do Estado e começa por transformar os meios de produção em propriedade do Estado. Por esse meio, ele próprio se destrói como proletariado, abole todas as distinções e antagonismos de classes e, simultaneamente, também o Estado, como Estado. A antiga sociedade, que se movia através dos antagonismos de classe, tinha necessidade do Estado, isto é, de uma organização da classe exploradora, em cada época, para manter as suas condições exteriores de produção e, principalmente, para manter pela força a classe explorada nas condições de opressão exigidas pelo modo de produção existente (escravidão, servidão, trabalho assalariado). O Estado era o representante oficial de toda a sociedade, a sua síntese num corpo visível, mas só o era como Estado da própria classe que representava em seu tempo toda a sociedade: Estado de cidadãos proprietários de escravos, na antiguidade; Estado da nobreza feudal, na Idade Média; e Estado da burguesia de nossos dias. Mas, quando o Estado se torna, finalmente, representante efetivo da sociedade inteira, então torna-se supérfluo. Uma vez que não haja nenhuma classe social a oprimir; uma vez que, com a soberania de classe e com a luta pela existência individual, baseada na antiga anarquia da produção, desapareçam as colisões e os excessos que daí resultavam - não haverá mais nada a reprimir, e, um poder especial de repressão, um Estado, deixa de ser necessário. O primeiro ato pelo qual o Estado se manifesta realmente como representante de toda a sociedade - a posse dos meios de produção em nome da sociedade - é, ao mesmo tempo, o último ato próprio do Estado. A intervenção do Estado nas relações sociais se vai tornando supérflua daí por diante e desaparece automaticamente. O governo das pessoas é substituído pela administração das coisas e pela direção do processo de produção. O Estado não é ‘abolido’: morre. É desse ponto de vista que se deve apreciar a palavra de ordem de ‘Estado livre do povo’, tanto em seu interesse passageiro para a agitação, como em sua definitiva insuficiência científica; é, igualmente, desse ponto de vista que se deve apreciar a reivindicação dos chamados anarquistas, pretendendo que o Estado seja abolido de um dia para o outro.”(idem).

1917: os trabalhadores tomam o poder

A revolução de outubro significou o maior acontecimento histórico do ponto de vista dos explorados e oprimidos em todo o mundo. Pela primeira vez na história, os trabalhadores tinham tomado o poder de Estado das mãos dos opressores e eliminado seus privilégios de classe. Vale dizer que o período que precedeu a tomada do poder pelos bolcheviques, foi marcado pelo mais duro combate entre as classes em luta. A burguesia russa, apoiada por todos os exploradores internacionais resistiram o máximo que permitiram suas forças, para não perderem seu “direito” à exploração. Acontece que em 1917 a classe burguesa já estava condenada pela história.

O proletariado, antagonista histórico da burguesia, entrava em cena na arena da luta de classes de forma independente, possuindo as condições objetivas e bases materiais para derrocar o poder do capital. Já nas revoluções de 1848, a burguesia pressente o fim de sua fase progressista e início de seu período irracionalista, marcado pelo freio ao desenvolvimento das forças produtivas e do próprio desenvolvimento humano em todo o seu potencial. Marx nos diz em seu “Dezoito Brumário” que: “A burguesia tomava consciência, com razão, de que todas as armas que havia forjado contra o feudalismo voltavam-se agora contra ela; que toda a cultura que havia gerado rebelava-se contra sua própria civilização; que todos os deuses que criara a haviam negado”. Embora os oportunistas e reformistas mencheviques, socialistas revolucionários, anarquistas e acadêmicos pequeno-burgueses vociferassem com pose indignada contra os bolcheviques, sobre a suposta prematuridade da revolução de outubro, reivindicando mecanicamente que o país perseguisse a trilha da burguesia ocidental, o regime imperialista já havia estabelecido a divisão mundial do trabalho, reservando para os países atrasados como a Rússia Czarista, a dependência e a subordinação.

Segundo Trotsky: “Os países atrasados assimilam as conquistas materiais e ideológicas das nações avançadas. Mas isto não significa que sigam estas últimas servilmente, reproduzindo todas as etapas de seu passado. A teoria da reiteração dos ciclos históricos – procedente de Vico e seus discípulos – apoia-se na observação dos ciclos das velhas culturas pré-capitalistas e, em parte também, nas primeiras experiências do capitalismo[...]O capitalismo prepara e, até certo ponto, realiza a universalidade e permanência na evolução da humanidade. Com isto se exclui já a possibilidade de que se repitam as formas evolutivas das distintas nações. Obrigado a seguir os países avançados, o atrasado não ajusta em seu desenvolvimento a concatenação das etapas sucessivas[...]O desenvolvimento desigual, que é a lei mais geral do processo histórico, não se revela, em nenhuma parte, com maior evidência e complexidade do que no destino dos países atrasados. Açoitados pelo chicote das necessidades materiais, os países atrasados se veem obrigados a avançar aos saltos. Desta lei universal do desenvolvimento desigual da cultura decorre outra que, por falta de nome mais adequado, chamaremos de lei do desenvolvimento combinado, aludindo à aproximação das distintas etapas do caminho e à confusão de distintas fases, ao amálgama de formas arcaicas e modernas. Sem recorrer a esta lei, enfocada, naturalmente, na integridade de seu conteúdo material, seria impossível compreender a história da Rússia, nem a de nenhum outro país de avanço cultural atrasado, seja em segundo, terceiro ou décimo grau.” (Leon Trotsky, “História da Revolução Russa”).

No início de fevereiro de 1917, devido à escassez de alimento, recrudescimento da pobreza e efeitos nefastos da guerra, grandes distúrbios e instabilidade social e política se intensificam em Petrogrado. As grandes greves políticas tomam conta da capital, sacudindo o poder do Czar. Segundo Trotsky, “Os primeiros dois meses de 1917 mostram 575 mil grevistas políticos, a maior parte dos quais correspondem à capital[...] Em cada fábrica, um número ativo estava se formando, geralmente em torno dos bolcheviques.” (idem). Em 23 de fevereiro (08 de março pelo calendário atual), por ocasião do dia internacional da mulher, reuniões, passeatas e manifestações tomam conta da capital, tendo as tecelãs importante participação. Em três dias, as greves que explodem tornam-se generalizadas, um primeiro passo de fato para a insurreição, marcados pelo enfrentamento contra a polícia e influenciando profundamente a psicologia de boa parte dos soldados das forças armadas. O dia 23 de fevereiro foi o estopim do grande movimento de massas revolucionário que conduziram à Revolução de Fevereiro, tendo os Sovietes participação fundamental no processo, pondo fim a monarquia absolutista e dando origem ao governo provisório, encabeçado pelo príncipe Lvov, posteriormente substituído pelo governo burguês liberal de Kerensky, baseado na colaboração de classes através dos seus ministros mencheviques e socialistas revolucionários, não resolvendo as grandes demandas das massas proletárias e populares e mantendo a Rússia na guerra.
Lenin, que estava exilado em Zurique na Suíça, percebe que todo o potencial revolucionário das massas estava longe de ter se esgotado. Em abril Lenin desembarca em Petrogrado e é recebido por uma multidão de operários e soldados, em seguida pronuncia duro discurso contra o governo provisório e faz o chamado à revolução proletária. Escreve em seguida suas conhecidas “Teses de Abril”, onde defende a necessidade de levar adiante a revolução socialista no país, não se detendo na república parlamentar burguesa. Trotsky já havia advertido que a república que saiu da Revolução de Fevereiro “não é a nossa república e a guerra que ela conduz não é a nossa guerra”. Lenin em suas “Teses”, que eram posições muito parecidas às de Trotsky, defende “[...] uma república dos sovietes de deputados de operários, assalariados agrícolas e camponeses de todo o país”
Nos meses que antecederam a revolução de outubro, Lenin lança o chamado para que os ministros mencheviques e socialistas revolucionários rompessem com os ministros capitalistas e tomassem o poder em suas mãos, o que eles se negaram. As massas se radicalizavam e os bolcheviques ganhavam influência entre os trabalhadores. A luta de classes ficava cada vez mais quente; segundo John Reed em seu clássico trabalho “Os Dez dias que Abalaram o Mundo”: “E em julho, a sublevação espontânea e desorganizada do proletariado, que assaltou novamente o Palácio da Táurida aos gritos de ‘Todo o poder aos sovietes!’, demonstrou, mais uma vez, que as massas estavam decididas a impor sua vontade. [...] Os bolcheviques constituíam nesse momento um pequeno partido, mas se colocaram, resolutamente, à testa do movimento de julho”. O Governo Provisório, parido da insurreição de fevereiro, dá início a uma verdadeira caçada aos bolcheviques. Uma ordem de prisão contra Lenin é expedida, acusando-o de provocador à soldo da Alemanha. Centenas de militantes bolcheviques foram presos, entre eles Trotsky, Alexandra Kolontai e Zinoviev. Lenin foge para a Finlândia, onde começa a escrever “O Estado e a Revolução”.

Em agosto, o general Kornilov tenta impor um golpe e uma ditadura fascista para salvar o Estado burguês. Kornilov mobiliza, além de parte das tropas, um considerável contingente armado informalmente, conhecidos como “Sociedades Patrióticas” de Petrogrado, muito semelhante aos agrupamentos fascistas posto em marcha por Mussoline e Hitler em seu tempo, também parecidas com as milícias cariocas aqui no Brasil. Kerensky, por medo da insurreição de Kornilov e pretendendo ganhar apoio dos bolcheviques, liberta Trotsky e outros bolcheviques. O levante organizado e armado dos trabalhadores de Petrogrado, dirigidos pelos bolcheviques, sem capitular a Kerensky, esmagam a contra-revolução kornilovista, fazendo com que o partido de Lenin, ganhasse a total simpatia das massas e da base das forças armadas russa. O caminho para a revolução se acelerava. Em seguida, os bolcheviques conquistam grande influência nos Sovietes de Moscou e Petrogrado (Trotsky era o presidente do Soviete de Petrogrado), dirigindo os principais setores do proletariado e das massas russas. O Governo provisório balançava e encontrava-se reduzido à impotência. Lenin, da Finlândia, fez duras críticas aos dirigentes bolcheviques, sobretudo Stalin, Kamenev e Zinoviev, que eram contrários à tomada do poder pelos trabalhadores. Essa ala do partido via na Revolução de Fevereiro, a concretização do máximo que o proletariado russo poderia fazer: pensavam “Outubro” como utopia. Lenin diz em uma carta enviada ao Comitê Central que “Os eventos estão determinando nossa tarefa tão claramente para nós que a procrastinação está se tornando nitidamente criminosa[...]Esperar seria um crime para a Revolução”.
O Comitê Militar Revolucionário, do Soviete de Petrogrado, liderado por Trotsky, dirige a tomada do poder em 25 de outubro de 1917, mobilizando os operários, soldados e Marinheiros a ocuparem as redes ferroviárias, centrais telefônicas, Correios, tipografias, banco oficial, etc., tomando de fato o poder de Estado das mãos da burguesia. No dia 26 de outubro, no “II Congresso dos Sovietes de toda a Rússia”, é anunciado a todo o mundo o poder proletário e a derrubada do Estado capitalista. Lenin, dirigindo o Congresso anunciaria: “Procederemos para a construção da ordem Socialista.” Dias depois, o governo dos Sovietes, liderado por Lenin, emitiu diversos decretos sobre a questão da terra que beneficiava os camponeses, propostas de paz, abolição da diplomacia secreta, sobre autodeterminação dos povos, separação entre igreja e Estado, sobre o controle dos trabalhadores, a igualdade completa de homens e mulheres, etc. Estavam dadas as bases da ditadura do proletariado contra os exploradores. Em seguida o governo dos Sovietes expropria os principais setores capitalistas e latifundiários.

A Contrarrevolução

Pouco tempo depois do sucesso da revolução, numerosos levantes contrarrevolucionários causaram milhares de mortos. Os mencheviques por exemplo, que dirigiam o importante Sindicato dos Ferroviários, tentaram por todos os meios sabotar o sucesso da revolução. Além de diversos problemas que apareciam no sentido da reorganização da economia, que se encontrava em situação caótica devido principalmente à guerra, o governo de Lenin teve de enfrentar, em um momento de grande dificuldade, a invasão imperialista que tentava estrangular a revolução. Vinte e um exércitos estrangeiros, contando com o apoio dos mencheviques e dos socialistas revolucionários, ocupavam diversos fronts visando liquidar o Estado Soviético. O conjunto destas forças militares internacionais burguesas formavam o Exército Branco, uma força internacional bélica dirigida pelo imperialismo.

Atentados terroristas contra Lenin, Trotsky e outros líderes bolcheviques foram cometidos pela reação. Os Brancos planejavam explodir o trem de Trotsky, e Lenin fora baleado. O Exército Vermelho, criado e dirigido por Trotsky implementou grande ofensiva em toda a parte e impôs uma derrota histórica ao terror Branco do imperialismo. No entanto, a ofensiva da reação e a guerra civil, criaram imensas dificuldades ao Estado soviético, que teve de recorrer ao “comunismo de guerra” e a Nova Política Econômica (NEP) ao fim da Guerra Civil, voltando sua economia essencialmente para a militarização e abrindo certas concessões ao capital e a determinadas relações capitalistas. Do contrário seria a derrocada militar, bancarrota econômica e o fim da revolução. Com a vitória histórica do Exército Vermelho, solidificava-se assim, o Estado Operário. Importante enfatizar que apesar de imensas dificuldades que rodeavam o Estado Operário, os bolcheviques, sobretudo Lenin e Trotsky, dispensam imensa energia para a fundação em março de 1919 da III Internacional, o partido mundial da revolução. Seus quatro primeiros Congressos e suas resoluções marcam um profundo avanço na luta internacional dos trabalhadores, como a defesa da Frente Única, a orientação para que os comunistas desenvolvessem o trabalho nas fábricas, criar núcleo comunista nelas, impulsionar a organização de conselhos operários e batalhar pelo ganho de hegemonia entre a classe. Outras resoluções de grande importância para orientar a luta dos trabalhadores, foram sobre o trabalho da mulher, a questão dos negros e sobre a revolução nos países do Oriente. A III Internacional dava conta da nova época pelo qual adentrava a sociedade burguesa, ou seja, a época do imperialismo e da necessidade da luta mundial contra o capital.

Os últimos dias e o ascenso da burocracia

Ao fim da Guerra Civil, a economia soviética estava em penúria. Suas forças foram mobilizadas para sustentar as tropas no front, que tinha de defender a pátria operária do assédio imperialista. A direção bolchevique, para tentar impulsionar a economia teve de recorrer a NEP, que permitia aos camponeses negociar seus grãos pelo livre mercado e abria concessões a determinados setores capitalistas. No cenário internacional, a Rússia soviética se encontrava isolada e sabotada, tanto política, mas fundamentalmente economicamente pelo mundo capitalista. Dado o caráter histórico de atraso econômico e das forças produtivas da Rússia, potencializados pela destruição causados pela Guerra, os trabalhadores ao tomarem o poder se deparavam com todo tipo de dificuldades e sabotagens. Tinham de reerguer o país, resolver os problemas mais elementares como o da fome, mas também desenvolver as forças produtivas da nação e elevar a produtividade do trabalho. Após longos anos de guerra, revolução e sacrifícios de todo tipo exigidos das massas, um período de abatimento e refluxo toma conta de grandes parcelas dos trabalhadores. Seus melhores, abnegados e mais audaciosos elementos foram mortos na Guerra Civil contra o terror Branco. Esta conjuntura favorece o ascenso de uma casta burocrática que ganhava corpo na direção do Partido e do Estado operário.
De acordo com Trotsky: “A uma intervenção sucedia a outra. Os países do Ocidente não forneciam uma ajuda direta. Em vez do esperado bem-estar, o país viu instalar-se, por muito tempo, a miséria. Os mais notáveis representantes da classe operária tinham desaparecido durante a guerra civil ou, subindo alguns degraus, tinham se desligado das massas. Assim sobreveio, após uma prodigiosa tensão de forças, de esperanças e de ilusões, um longo período de fadiga, de depressão e de desilusão. O refluxo do ‘orgulho plebeu’ teve como corolário um afluxo do arrivismo e pusilanimidade. Estas marés conduziram ao poder uma nova camada de dirigentes” (Leon Trotsky, “A Revolução Traída”). Lenin, por sua vez, já percebia essas tendências burocráticas no interior do poder de Estado e do próprio partido. Desde de 1920 vinha assinalando estas “deformações burocráticas”. Após voltar ao trabalho, depois de sua primeira enfermidade, Lenin se assusta com o grau atingido pela burocracia e sua influência degeneradora. Antes de sofrer seu segundo ataque cerebral, pronuncia três discursos atacando a burocracia. Em um destes, afirmava: “O que necessitamos é que os comunistas controlem a máquina para a qual foram designados e não, como frequentemente acontece entre nós, que a máquina os controle”. (Obras Completas, T. XXXIII).

Em seguida, no dia 16 de dezembro de 1922, Lenin sofre seu segundo ataque que o retira da vida pública facilitando o caminho da burocracia. Em 4 de janeiro de 1923, debilitado, dita um “pós-escrito”, conhecido como seu testamento, onde afirma: “o camarada Stalin, ao converter-se em secretário geral, concentrou em suas mãos um poder ilimitado e não estou seguro de que seja sempre capaz de utilizar essa autoridade com cautela”, propondo dessa forma que o partido “buscasse a forma de remover Stalin” de seu cargo de Secretário-Geral. (Lenin, “Diário das Secretárias”). Lenin dedica seu último período de vida a combater a burocracia, em uma de suas últimas conversas com Trotsky lhe orienta: “Propõe, então, iniciar a luta não só contra a burocracia de Estado, mas também contra a comissão de organização do Comitê Central?” (Trotsky, “Minha Vida”). Lenin pensava em formar com Trotsky um bloco contra a burocracia. Ainda segundo Trotsky, “A sua intenção (de Lenin) era criar uma comissão agregada ao comitê central para a luta contra a burocracia, e da qual devíamos ambos participar. Afinal de contas, tal comissão devia funcionar como uma alavanca para destruir a fração stalinista, espinha dorsal da burocracia, e para criar, no partido, as condições que me dessem a possibilidade de vir a ser substituto de Lenin, e, segundo a sua ideia, o seu sucessor na presidência do conselho dos comissários do povo.” (idem).

Lenin preparava uma dura batalha contra a burocracia para o XII Congresso do Partido Comunista Russo. Mas em 9 de março sofre um novo ataque cerebral que o paralisa completamente. No dia 24 de janeiro de 1924, o coração e cérebro genial de Lenin deixam de funcionar, e o grande chefe do proletariado mundial morre prematuramente. A obra de Lenin permanecera através dos tempos. Seu legado, seu método e exemplo mantém toda a integridade revolucionária e servem como guia para o proletariado e seus aliados. Diante da decadência mundial do regime capitalista, que tem acirrado a barbárie como forma de ser da sociedade burguesa, as contribuições de Lenin são valiosos instrumentos na luta da classe trabalhadora. Mais do que nunca o partido de Lenin se faz atual, como único instrumento capaz de conduzir às massas a derrubada violenta da sociedade capitalista em direção ao socialismo. Diante da crise de direção pelo qual passa o proletariado revolucionário, é cada vez mais urgente recorrermos ao legado e a obra de Lenin, como arma indispensável na luta pela destruição do mundo burguês!
Lenin e esposa

Para terminar, ressaltamos as belas palavras de Trotsky, em nota divulgada um dia após o falecimento de Lenin, sobre o grande chefe revolucionário: “[...] como iremos prosseguir? Encontraremos o caminho? Não iremos perder-nos? Porque Lenin, camaradas, já não se encontra entre nós… Lenin já não existe, mas temos o leninismo. O que havia de imortal em Lenin – os seus ensinamentos, o seu trabalho, os seus métodos, o seu exemplo – vive em nós, neste Partido que criou, neste primeiro Estado operário à cabeça do qual se encontrou e que ele dirigiu. Neste momento, os nossos corações estão invadidos por esta dor tão profunda, porque todos nós fomos contemporâneos de Lenin, trabalhamos a seu lado, estudamos na sua escola. O nosso Partido é o leninismo em ação; o nosso Partido é o chefe coletivo dos trabalhadores. Em cada um de nós vive uma parcela de Lenine, o que constitui o melhor de cada um de nós[...]”.

ROBERTO BERGOCI - SP

sábado, 16 de novembro de 2024

A crise geral do Capitalismo com foco na América Latina * Rosa Sarkis/Painel TV

A crise geral do Capitalismo com foco na América Latina
ROBERTO BERGOCI

DADOS

Estudei Ciências do Trabalho ( sociologia do trabalho) no DIEESE; Escrevi para o jornal maoísta carioca, "A Nova Democracia"; também escrevi com regularidade para os jornais impressos e blogs da Liga Bolchevique Internacionalista, Liga Comunista e Gazeta Revolucionária. Comecei minha militância política no maoísmo na metade dos anos 2000, numa organização chamada Liga Operária. Posteriormente me afastei do maoísmo e me aproximei do trotskysmo, quando me juntei por volta de 2011 à Liga Comunista. Depois passei pela Liga Bolchevique Internacionalista ( LBI), esta, uma corrente trotskysta que surgiu de um racha do Partido da Causa Operaria ( PCO); e militei ainda na Gazeta Revolucionaria, um agrupamento revolucionário trotskysta. Tenho escrito sobre questões de geopolítica e economia, envolvendo a América Latina e Eurásia. Neste campo, tenho como referencia, além dos clássicos do marxismo, autores como Moniz Bandeira, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Istvan Mészáros, Ernest Mandel, etc. Atualmente, participo de um Comitê pela Frente Nacional de Mobilização dos Trabalhadores*, onde mantemos três blogs de análises de geopolítica e conjuntura." Roberto Bergoci - * Posteriormente, denominada FRENTE REVOLUCIONÁRIA DOS TRABALHADORES - FRT .
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ROSA SARKIS/Painel TV

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

A América Latina no olho do furacão * Roberto Bergoci/PCTB-SP

A América Latina no olho do furacão
O agravamento da crise orgânica do capital na raiz da nova onda golpista em nosso continente.

Toda análise mais profunda, que envolva a totalidade do modo de produção capitalista, tem chegado a conclusões de que, tal regime entrou num longo período de declínio, crises constantes e regresso civilizacional. A crise profunda que hora vivenciamos na América Latina é um momento dessa totalidade, manifesta em uma de suas cadeias mais débeis, que é justamente o capitalismo dependente. Sem uma compreensão desse fenômeno em seu conjunto, fica impossível entendermos o que de fato nos atinge em Nossa América.

A crise contemporânea que abala a sociedade burguesa em seu conjunto, possuí um caráter dialético, pluri causal, como nos ensina Marx em seus três livros que compõem O Capital: neste processo, vemos a combinação e ação recíproca influir uns sobre os outros, os problemas estruturais que envolvem o modo de produção capitalista, como superprodução, queda das taxas de lucro, sobreacumulação, financeirização, etc; em suma, a manifestação da crise de valorização do capital em sua organicidade. Este processo se torna ainda mais dramático, sobretudo pelo fato de que, uma das características do capitalismo atual é ter entrado numa fase de completo amadurecimento e mundialização, onde deslocou já para quase toda parte do globo terrestre suas contradições, como já teorizado por Rosa Luxemburgo em seu importante livro “Acumulação de Capital”.

Na verdade, como disse o economista marxista Robert Kurz em um de seus escritos: “Desde meados dos anos 1970 se multiplicam os sinais de uma séria crise da reprodução do sistema mundial produtor de mercadorias. Taxas declinantes ou estagnadas; desemprego em massa e ‘estrutural’ crescentemente desacoplado dos ciclos conjunturais tanto nos países desenvolvidos da OCDE quanto na periferia do mercado mundial [...] Tudo isso, por sua vez, é superposto pela cada vez mais ameaçadora crise do ecossistema em escala planetária: do “buraco na camada de ozônio” à destruição das florestas tropicais da África e da Amazônia, da propagação das zonas desérticas à contaminação das cadeias alimentares, da destruição dos sistemas ecológicos internos como os do Mar do Norte, dos Alpes e do Mar Mediterrâneo até a irreversível contaminação dos solos e da água potável etc.” (Robert Kurz, “A Crise do Valor de Troca”). Dessa forma, em concordância com outros importantes autores marxistas da contemporaneidade, podemos perceber que a atual crise, ao contrário das anteriores correspondentes ao capitalismo em sua fase de ascenso, atinge a totalidade do regime burguês.

O pensador revolucionário István Mészáros ensina que: “[...] a crise do capital que experimentamos hoje é fundamentalmente uma crise estrutural. Assim, não há nada especial em associar-se capital a crise. Pelo contrário, crises de intensidade e duração variadas são o modo natural de existência do capital: são maneiras de progredir para além de suas barreiras imediatas e, desse modo, estender com dinamismo cruel sua esfera de operação e dominação.”(István Mészáros, “Para além do Capital”). E um pouco mais à frente Mészáros explicita a singularidade da atual crise que, segundo ele, possui um caráter universalizante, atingindo todas as esferas da reprodução social.

Pedindo já perdão ao leitor pelas longas citações-- que ao nosso juízo são essenciais para uma melhor compreensão do que ocorre na América Latina, tema de nosso texto-- segue Mészáros: “A novidade histórica da crise de hoje torna-se manifesta em quatro aspectos principais:
(1) Seu caráter é universal, em lugar de restrito a uma esfera particular (por exemplo, financeira ou comercial, ou afetando este ou aquele ramo particular de produção[...];
(2) Seu alcance é verdadeiramente global (no sentido mais literal e ameaçador do termo), em lugar de limitado a um conjunto particular de países (como foram todas as principais crises do passado);
(3) Sua escala de tempo é extensa, continua, se preferir, permanente, em lugar de limitada e cíclica, como foram todas as crises anteriores do capital;
(4) Em contraste com as erupções e os colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado, seu modo de se desdobrar poderia ser chamado de rastejante, desde que acrescentemos a ressalva de que nem sequer as convulsões mais veementes ou violentas poderiam ser excluídas no que se refere ao futuro: a saber, quando a complexa maquinaria agora ativamente empenhada na ‘administração da crise’ e no ‘deslocamento’ mais ou menos temporário das crescentes contradições perder sua energia.”(Idem).

Pensamos que no geral, este seja o caldo de cultura do atual período de instabilidade e golpes de Estado envolvendo praticamente todos os países latinoamericanos. Isso não exclui, pelo contrário, se combina dialeticamente com as características próprias dos países em nosso continente, marcados pela dependência e subdesenvolvimento, tornando dessa forma os efeitos da crise orgânica do capitalismo mundial muito mais perversos em nossa Grande pátria.

Instabilidade, golpes e geopolítica do caos: a América Latina e o imperialismo diante da crise estrutural.

Nesta nova etapa do capitalismo mundial, marcado pela hegemonia do capital financeiro fictício, o padrão de acumulação que caracteriza os países latinoamericanos é justamente o neoliberalismo. O padrão de acumulação neoliberal é em si, a expressão da crise da produção de mais-valia, como consequência dos processos de intensificação da automação industrial poupadora de trabalho vivo, humano, o que Marx conceitualizou como o aumento da composição orgânica do capital.

O regime neoliberal de acumulação trás em seu bojo, o incrível incremento da superexploração dos trabalhadores, desemprego crônico, recrudescimento da transferência de valor e de riquezas dos países dependentes para as metrópoles imperialistas, pauperismo absoluto das massas trabalhadoras e das classes médias, intensificação da marginalização e “lupenização” de vasta parcela das massas populares e etc.

A América Latina vive entre os fins dos anos 1980 e inicio dos anos 1990, sua primeira onda neoliberal. Na época, o continente estava marcado pela crise da divida, fuga de capitais, desinvestimentos, grande estagnação econômica e etc. O imperialismo estadunidense e toda gangue representante do grande capital financeiro internacional e sua imprensa, aliados das oligarquias latinoamericas, viam sérios riscos quanto às suas condições de lucros e espólio. Nascia assim o famigerado Consenso de Washington, pilar da generalização neoliberal-neocolonial em nossa região.

Este período se caracteriza entre outras coisas pelo assalto descarado aos ativos estatais por parte das multinacionais, através das privatizações. Boa parte das conquistas sócias foram destruídas pela via das “reformas estruturais”: trabalhistas, previdenciárias, etc. Saindo dos sanguinários regimes militares, o continente foi dominado pela ditadura do “deus” mercado, onde nossos povos eram literalmente imolados nesse altar da barbárie.

Não tardou para que as revoltas operárias e populares colocassem um duro freio a esse genocídio social. Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador entre outros países, foram sacudidos por verdadeiros processos de insurreições e\ou explosões sociais, derrotando duramente os governos títeres da Casa Branca. Na sequencia, o continente hegemonizado politicamente pelos governos nacionalistas burgueses, colocaram certo freio nas políticas neoliberais. O crescimento da economia mundial no período, sobretudo a ascensão da China como importante ator e importador de matérias primas, estimulou a valorização dos produtos agrominerais, importante base de exportação de nossas economias dependentes.

Tal conjuntura “favorável”, permitiu relativa melhora nas contas externas de nossos países, transformados em importantes concessões aos povos trabalhadores e a pequena burguesia. No entanto, os pilares da dependência e do subdesenvolvimento jamais foram tocados pelos chamados governos “progressistas”. A submissão aos imperativos da divisão mundial do trabalho, a superexploração da força de trabalho, a crônica transferência de valor e riqueza para os países imperialistas não foram revertidos, apenas “aliviados”. Em suma, as relações de exploração e opressão se mantiveram com algum freio, mas em essência continuamos sendo países dependentes.

A América do Sul em particular, se distanciou relativamente do Consenso de Washington, criando a ALBA, ou fortalecendo outros fóruns de integração regional como o Mercosul. Além disso, houve no período uma importante aproximação de países adversários dos EUA no âmbito geopolítico como Rússia e China, além da constituição dos BRICS e sua relação com a América Latina, que na prática, embora sua moderação, afrontava na região a odiosa hegemonia da Casa Branca.

De forma muito sumária, podemos afirmar que tais fatores, conjugados com a explosão em 2007-2008 de mais um momento da crise estrutural do capitalismo mundial, foram determinantes para por fim ao período que se inicia no começo dos anos 2000 em nosso continente, abrindo assim as condições objetivas para a atual quadra de barbárie em nossos países.

O neocolonialismo imperialista e o Ascenso do fascismo
A América Latina vive atualmente um período de grande turbulência e caos econômico, político e social. A intensificação da crise mundial capitalista é a base do recrudescimento de todas as contradições que envolvem o capitalismo dependente.

A burguesia imperialista e seus sócios menores na America latina tem levado adiante, como resposta à crise, uma verdadeira reestruturação do capitalismo em nosso continente: as formas políticas e jurídicas sustentáculos dos regimes políticos, estão sendo transformadas, “adaptadas” dialeticamente às novas necessidades de acumulação. Podemos dizer que um “novo” patamar de acumulação, baseado num grau muito mais intenso de superexploração e dominação neocolonial, esta sendo gestado em toda a América Latina.

Fatores geopolíticos de primeira ordem também influem neste processo. A esse respeito, o imperialismo leva adiante uma verdadeira batalha de vida ou morte para minar a influencia de Rússia e China na região e estabelecer sua “nova” doutrina Monroe, através da dominação do Spectro Total, como dizia Moniz Bandeira . A luta pela sua hegemonia incontestável, pelo controle ferrenho de fontes de matéria prima e energéticos no continente, além da dominação de importantes reservatórios de água potável, são a base da atual ofensiva imperialista contra a América latina.

Semelhanças com o que fizeram no Oriente Médio não é mera coincidência: Washington tenciona trazer o caos planejado para a nossa região, através das chamadas “guerras hibridas”, ou seja, a intensificação de conflitos irregulares e indiretos, como tem demonstrado o importante estrategista Andrew Korybko. O papel desempenhado por exemplo, das igrejas neopentecostais nos atuais golpes de Estado no continente, em muito se assemelham as atuações fundamentalistas dos wahabitas sunitas islâmicos no Oriente Médio.

A militarização da região e o ascenso de agrupamentos fascistas tem sido outro instrumento mobilizado pela Cia e Mossad atualmente. Para levar adiante a espoliação radical de nossos povos, o grande capital imperialista tem de lançar mão de seu reservatório fascista contra as organizações de luta da classe trabalhadora e quebrar a resistência das massas.

A política de roubo e pilhagens do capital financeiro atualmente na America latina, somente pode ser conseguido até suas últimas consequências, através do terrorismo de Estado. O narco Estado colombiano é um modelo que os imperialistas planejam generalizar. O crescimento das milícias bolsonaristas no Brasil, suas relações com o narcotráfico, com as Policias Militares e com o alto Comando das Forças Armadas é sintomático disso. As repressões selvagens contra as massas no Chile e na Bolívia pelos golpistas fascistas, também são exemplos do que pode se generalizar no continente, tendo como caldo de cultura a intensificação da crise de dominação burguesa.

A América Latina Resiste!

Os povos latinoamericanos resistem bravamente aos bárbaros ataques das burguesias nativas e do imperialismo. Os trabalhadores chilenos são um exemplo a ser seguido por nossos povos. O recrudescimento das mobilizações contra o carniceiro Sebastian Piñera tem colocado a burguesia pinochetista chilena contra a parede e promovido uma verdadeira crise de dominação no país.

O povo boliviano, como em outros momentos históricos se levanta contra o golpismo em seu país. Os golpistas lupens, verdadeiros peões da Casa Branca, Jenine Áñez, “Macho” Camacho e toda a quadrilha que usurparam o governo boliviano tem de promover um genocídio de fato contra as massas, para garantir o roubo mais vil à nação em favor do capital estrangeiro.
Equador, Haiti e Argentina, dão mostras das tendências revolucionárias do povo latinoamericano no próximo período.
No Brasil, a classe trabalhadora deste país precisa entrar em cena e por abaixo a gerencia entreguista do bandido miliciano Jair Bolsonaro. Os trabalhadores brasileiros podem desestabilizar o jogo de forças na região e arrastar a America latina para um grande ascenso antiimperialista revolucionário; para isso precisam romper a camisa de força de suas direções hegemônicas, comprometidas com a estabilidade do regime burguês decadente.

De qualquer forma, não há no próximo período, qualquer sinal de recuperação consistente da economia capitalista. Pelo contrário, o que se vê no horizonte é o aprofundamento da crise estrutural e das consequentes turbulências políticas, que podem de fato generalizar na America Latina, a crise de dominação das burguesias nativas, fator que põe na ordem do dia a luta anti imperialista e a revolução socialista continental, em direção a Grande Pátria Latinoamérica Socialista!

OBS
Texto re-publicado apenas como alerta para a intervenção imperialista no continente, com maior incidência agora devido a força do BRICS.
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